sexta-feira, 14 de maio de 2010

Resenha: Ágora (2009)

Pôster de anúncio de Ágora1. Ficha Técnica Resumida
Nome original: Ágora
Data de lançamento: 01/10/2009 na Espanha (para outros locais clique aqui)
Direção: Alejandro Amenábar
Roteiro: Alejandro Amenábar e Mateo Gil
Gêneros: drama, histórico
Personagens principais: Hipácia (Rachel Weisz), Davus (Max Minghella), Orestes (Oscar Isaac), Sami Samir (bispo Cirilo)
Fonte: http://www.imdb.com/title/tt1186830/

2. Avaliação do Autor
Enredo: 5 de 5
Cenário: 5 de 5
Figurino: 5 de 5
Fidelidade histórica: 5 de 5
Originalidade: 3 de 5 (infelizmente o cinema blockbuster já abusou demais do cliché da mulher que tenta mudar o mundo mas acaba impedida de alguma maneira).
Nota final: 5 de 5
Comentários sobre a avaliação final: é um filme obrigatório para qualquer pessoa que consiga usar dois neurônios simultaneamente. O filme traz reflexões não apenas sobre a religiosidade no mundo atual como abre a pergunta "e se o cristianismo nunca tivesse existido, como estaríamos hoje?".

3. Sobre o Filme
Ágora é a mais recente produção de Alejandro Amenábar (também conhecido pelo sucesso Mar Adentro), mas, apesar de contar com Rachel Weisz no elenco e receber excelentes comentários e classificações (tendo sido exibido no Festival de Cannes mesmo sem estar concorrendo a nada e ter alcançado o 4º lugar na lista dos Dez Filmes Mais Geeks de 2009 do site http://www.geek.com.br, entre muitos outros), não foi amplamente divulgado no Brasil. Um dos motivos é a dupla polêmica suscitada pelo filme: a de retratar de maneira suave mas fiel os cristãos dos primeiros séculos e o inevitável paralelo com correntes mais fanáticas do islamismo dos dias de hoje. O outro motivo é aquela imagem que se tem do brasileiro: um povo interessado em samba, futebol e afins, incapaz de admirar o que a humanidade humana (nota: "humanidade" aqui aparece como propriedade, não como objeto) tem de mais sublime. Foi um dos melhores filmes que eu já assisti, e considero obrigatório para qualquer um que queira ver o que uma turba insandecida pelo fanatismo (seja este de qualquer espécie) pode fazer.

4. Resenha
Hipácia de Alexandria (em português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%A1tia; em inglês: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypatia) foi a última diretora da Academia de Alexandria, instituição de ensino inspirada no neoplatonismo e na Academia Platônica, e uma das mais importantes filósofas, matemáticas e astrônomas de seu tempo (quiçá de todos os tempos). Infelizmente, ela viveu em um período histórico muito ruim para ser uma mulher pagã, solteira, independente e inteligente: o final do século IV d.C. e o início do século V d.C. Nesse período, Império Romano já havia adotado o cristianismo como sua religião oficial, e isso representaria um sério problema para uma pessoa com todas essas virtudes que Hipácia possuía.
Como diretora da Academia de Alexandria, Hipácia não apenas ministra aulas de filosofia, astronomia e matemática como exerce uma grande influência no governo da cidade, formado em grande parte por ex-alunos seus. O prefeito Orestes, inclusive, raramente tomava decisões importantes sem consultar sua mestra, e o conselho sempre a consulta quando necessário.
Essa influência ofendia os cristãos. Baseados nas Epístolas Paulíneas (isto é, aquelas que foram escritas por São Paulo), os cristãos acreditam que a mulher foi criada por Deus para ser um ente submisso ao homem, do qual seria nada além de uma posse e para o qual não teria utilidade além de reprodutora e empregada doméstica. Liderados pelo bispo, da cidade, Cirilo de Alexandria (canonizado em 1882), os cristãos exigiam do governo que Hipácia fosse punida por sua "ousadia" em, como mulher, influenciar as decisões da cidade.
Orestes resistiu o quanto pôde, mas se viu forçado a ceder quando o Império determinou que os funcionários públicos deveriam se converter ao cristianismo. A partir desse momento, os contatos entre Hipácia e Orestes passaram a ser secretos, pois ela se recusava a converter-se. Respaldados pelo governador da província, os cristãos lançaram um golpe contra a Academia, invadindo e destruindo o lugar. Hipácia, ao tentar apelar junto a Orestes, foi sequestrada (com a anuência de Cirilo) por uma turba de cristãos liderada por Pedro, o Leitor, arrastada até uma igreja, apedrejada, esquartejada viva e lançada ao fogo. Orestes fugiu, e Cirilo assumiu o controle da cidade.

5. Recomendações
Assista a esse filme apenas se você não for um fanático religioso, pois o filme pode ser bastante incômodo aos que nutrem uma visão idílica e romanceada dos primeiros anos do cristianismo. Trata-se de uma religião embrutecida e inimiga do saberes humanos, como a História frequentemente mostra - ou, como Voltaire disse nas Cartas Inglesas, "uma religião de analfabetos e broncos, sempre falando de amor mas dispostos a trucidar todo aquele que não adere aos seus absurdos". Hipácia é apontada como a primeira mártir da humanidade, tendo sido morta por sequazes de uma religião nascida do ressentimento e de crimes contra a capacidade humana de pensar.
Nota importante: quando falo de cristianismo, falo da religião que surge a partir das Epístolas Paulíneas. A mensagem de Jesus Cristo é muito diferente da mensagem pregada pela religião que leva seu nome, o que torna importante e necessária a distinção.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Besouro - Filme

Besouro: filme de kung fu? Que nada! A parada é filme de capoeira!
Fontes: a imagem é do cartaz oficial do filme, e as informações técnicas vêm de lá.
Título original: Besouro
Nacionalidade: Brasil
Direção: João Daniel Tikhomiroff

Besouro é o filme brasileiro que veio pra provar o que eu sempre digo: brasileiro pode fazer, sim, bons filmes de ação.

Besouro conta a história real (com toques de fantasia) de Besouro, um lendário capoeirista que lutou para que de fato os negros fossem libertos da escravidão, porque, apesar de a Lei Áurea já ter sido assinada em sua época, sua etnia ainda era submetida a um regime de trabalho escravo. E tudo começa com uma tragédia, quando o mestre de Besouro é assassinado quando o próprio devia estar protegendo-o, e Besouro se vê frente à realidade que ele pode se tornar o libertador de seu povo.

A primeira coisa que impressiona em Besouro é a coreografia das lutas, dirigidas por Huen Chiu Ku (mesmo coreógrafo de Kill Bill). Não são muitas, admito, mas a qualidade é mais importante que a quantidade, e nisso o filme acerta.

O roteiro, fantasioso e com diversas referências à religiões afro-brasileiras, funciona bem pacas. Como tudo é (realmente) relacionado à lenda do personagem-título, as cenas mais "místicas" dão um "quê" a mais pra história. E a história contada é boa, não decepciona e te dá 95 minutos de boa diversão.

Pra fechar esse filme com chave de ouro, o elenco é ótimo. Aílton Carmo convence no papel do cabeça-dura Besouro, e Flávio Rocha te deixa com raiva no papel do Coronel Venâncio, isso só pra dar um gostinho, já que o resto do elenco também foi muito bem selecionado. E o trabalho de Tikhomiroff não direção também é esmerado, causando uma boa impressão.

Besouro, como filme de ação, é uma pérola, e também é muito bom como uma peça para reflexão sobre o passado de nosso país. Assista sem medo, porque é diversão garantida!

Nota definitiva... 4 de 5.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Avatar - Filme

Avatar: 12 anos. Doze anos sem fazer filmes, e agora eu sei porquê.
Fontes: a imagem é o pôster do filme, e as informações técnicas vêm do além.
Título Original: Avatar
Nacionalidade: Estados Unidos da América
Direção e roteiro: James Cameron
Gênero: Ação/Aventura/Fantasia/Ficção Científica

Eu queria espairecer e assistir um bom e divertido filme. E lá estava ele, Avatar, dizendo "ME ASSISTA! ME ASSISTA!!!". E por que não? Não tinha nada melhor pra fazer, e todo mundo fala tão bem desse filme...

Num futuro um pouquinho distante, os seres humanos praticamente "raparam" todos os recursos naturais da Terra. Para conseguir o que precisam, os humanos vão para os espaço explorar novos mundos e fontes de renda. Em Alpha Centauri, numa lua conhecida como Pandora, onde eles encontram um mineral que custa bilhões por quilograma e o povo do planeta, os Na'vi.

É claro que os na'vi, um povo selvagem e recluso, vivendo em contato direto com a natureza, iriam ficar retraídos diante dos terráqueos. E com razão, já que os terráqueos querem se livrar deles para poder pegar a maior reserva do mineral que fica bem em baixo da maior comunidade do povo deles...

No meio de toda essa politicagem e conspiração, encontra-se Jake Sully, um ex-fuzileiro cadeirante, que só é recrutado para a missão porque seu irmão gêmeo morreu. O irmão de Jake fazia parte de um experimento social que tentava manter um contato direto com os nativos, para estudar a cultura na'vi. Com esse objetivo, foram criados os avatares: híbridos humano-na'vi, que podem se conectar diretamente ao cérebro do humano-usuário, como se o mesmo fosse o dono do corpo. Na verdade, Jake só foi recrutado pela facilidade de conexão com o avatar, graças à similaridade do seu DNA com o de seu irmão, e é enxergado como um estranho peça equipe de pesquisadores, jáque é um militar, e não um cientista.

Mas isso muda assim que, durante uma exploração, Jake é separado do grupo de pesquisadores. Perdido no meio da floresta, apenas com suas habilidades de sobrevivência para protegê-lo em terreno alienígena, Jake é eventualmente resgatado por Neytiri, uma na'vi que, após muita insistência, acaba sendo sua professora sobre a cultura de seu povo. E aí o resto só assistindo o filme... XD

Dá pra entender porque Cameron trabalhou tanto tempo nesse filme. Assim como Tolkien (acho que vou apanhar de algum fã de Senhor dos Anéis...), Cameron criou uma cultura própria (baseada nos povos aborígenes australianos e nos povos indígenas norte-americanos) e língua (como Tolkien criou o élfico). Mas não foi só isso: ele e sua equipe idealizaram e criaram toda a fauna e flora de Pandora, cuidando de tudo nos mínimos detalhes.

Não só os efeitos especiais impressionam (assim como o maquinário do filme, que é um show à parte), mas também as atuações. Sam Worthington manda muito bem no papel de Sully, um homem que acaba dividido entre dois mundos e duas naturezas, assim como Zoë Saldaña consegue impressionar com a teimosa e guerreira Neytiri. Mesmo atores famosos que acabaram ganhado papéis menores, como Sigourney Weaver e Michelle Rodriguez, conseguem fazer um grande trabalho e têm seu destaque e brilho próprios. Destaco especialmente Stephen Lang, no papel do Coronel Quaritch, realmente impressionante.

Tá certo, há quem ache que o roteiro têm clichês demais, e também quem ache que Cameron só fez mais um caça-níqueis, mas acho que ele não está errado: se você pode fazer um trabalho que te agrada pacas e te dá rios de dinheiro... por que não?

Eis um filme que vale a pena assistir na telona.

Nota definitiva... 4 de 5.